segunda-feira, 7 de maio de 2018

Por uma puta coincidência, hoje faz um ano do meu último post aqui. Coincidentemente, ontem passei pela mesma barraquinha que eu falei no último post. Porém, nenhum cachorro morrendo passou por mim. Ontem estava um belíssimo dia, por sinal.
De vez em quando, coisas me incomodam. De vez em quando tenho o ímpeto de escrever sobre elas. Mas raramente sinto disposição. Monto o texto inteiro na minha cabeça e a carga da residência vêm e me mata. Hoje, entretanto, estou disposta e, por sinal, cozinhando um ovo aqui na cozinha.
Essa semana morreu o pai de uma amiga minha. Eu não sei descrever o quanto ela é próxima ou não, pois não sei o quanto um próximo pode ser tão próximo para ser considerado próximo. Tenho essa dificuldade com pessoas que conheço há pouco tempo e dificuldades, as vezes, com pessoas em geral. Um tema para um próximo dia. But not today.
Eu tenho me incomodado por não ter ido mostrar meus sentimentos de compaixão por ela. Dizer um “oi, só queria dizer que estou aqui pra qualquer coisa que seja”. Não fui. Até perguntei pra umas amigas se devia ir. Aquela cara de “ah, amiga, não sei”. Pois então, não sei mesmo. Eu começo a imaginar a cena. O cemitério. As pessoas lá fora conversando. O local lá dentro com um certo ar de vazio. Eu já fui em três velórios. Dos meus avôs e avó. Nenhum outro, porque “isso não era lugar pra uma criança”. Eu não conheço a morte realmente. Conheço a morte pelos olhos dos meus pais. Me doía ver meu pai chorando pela minha vó. Aí entendi que era ruim mesmo. Já chorei várias vezes no hospital por escutar de caso de fulano ou ciclano. Quem me conhece sabe que eu sou um rio de lágrimas. “Por que o choro vem tão fácil pra você?”. Essas coisas me pegam. Acabar. O tempo está acabando. Está ficando tarde demais. Você está ficando velho e o seu tempo está se esgotando.
É engraçado que eu sou tão sensível pra essas coisas, uma maria chorona, e, ao mesmo tempo, eu sou dura demais. Eu decidi escrever esse texto por causa de uma frase que eu disse pra minha mãe enquanto viajávamos pro velório do meu vô (pai dela). Ela não queria comer e só chorava. “Você tem que comer. Chorar não vai trazer ele de volta.” Séria. Ela me olhou com os olhos molhados e não disse nada. Como sempre. Nunca me dizem nada e a culpa vem. Que saco essa mania de não revidar. Eu quero levar porrada, porra! Eu bato pra apanhar? Retomar essa frase me faz reviver o momento. Eu me sinto estreitando os olhos diante daquilo que eu falei, de saber que eu falava um absurdo, mas de manter a frase pairando, sem demonstrar carinho ou qualquer coisa parecida. Uma dureza mesmo, que eu não tenho realmente, mas que insiste em vir quando com eles. Mas lá dentro eu sempre me culpava e chorava depois. Pedia desculpas pro ar, esperando que alguém ouvisse e dissesse: “tudo bem, eu sei que você não quis dizer aquilo”. Porque eu não quis dizer mesmo. Mas eu disse. E eu sempre disse muita merda que me faz culpada até......!
 Eu tenho pavor da morte porque eu penso nos meus pais. E penso que eles vão morrer sem saber que eu não queria dizer isso. Ou aquilo. Ou mais aquilo lá. O tempo está indo embora. E eu estou indo embora. Eu não conheço nada, eu não conheço a morte. Porque eu nunca conheci pessoas muito bem. Por isso não dá pra me culpar por não saber lidar com elas direito (tô falando de mim pra mim). E todo esse mundo grande me espanta demais. Porque eu sempre estive em três. Eu não conheço o quarto, o além. E eu quero, mas tenho medo. Por isso, naquele dia, eu decidi ficar; “mas estou aqui, pra qualquer coisa que seja”.




 Esse texto é confuso. Mas assim estou também, há quase um mês sem terapia. E escrever me ajuda, por isso o faço. Meu ovo ficou pronto e já o comi. Já chorei também. Beijos de luz e morte.

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