domingo, 7 de maio de 2017
Caralho. Quase cinco anos desde a última postagem. O tempo passa, a vida muda. Penso que deveria ter escrito mais. Hoje senti a necessidade de colocar o que eu sinto no "papel" pra tirar um pouco de todo esse peso. Foi a primeira vez em muito tempo que eu andei na rua pensando no que ia escrever. E pensando em como tudo aquilo era sólido. Pesado. E cortante. Cortante feito faca. Ali lembrei do Belchior, que morreu agorinha. "E eu quero é que esse canto torto feito faca Corte a carne de vocês". E lembrei do Belchior quando passeava pela Feira do Largo Da Ordem (surpreendentemente estou morando em Curitiba. CARALHO. COMO ASSIM? Eu também não sei responder. Talvez seja o tema pra uma próxima divagação...). Quando cheguei na feira me ajoelhei pra ver os livros expostos do sebo. Estavam todos no chão. Antes de ajoelhar um cachorro estava lá deitado. Sorri. Que bonito, forte e deitado ao lado dos livros. Um cara veio conversar comigo sobre psicografia. Me julgou interessada pelo tema. Devia estar mesmo. Enfim, cansei um pouco e pensei "mas que merda, dizem que a gente está cada vez mais evoluído a cada vida, e não é pra menos afinal: é cada pedrada... na próxima vida encarnarei como Buda". Notei um pessoal comentando próximo a mim. Olhavam pro cachorro. "Tem que passar creme de prata nele, está infeccionado". Ali eu vi: ele estava com um furo na pele. Infeccionado. Tentaram acordar o cachorro. Ele abriu os olhos, mas desistia. "Tem que comprar isso, tem que passar aquilo". No final, todos foram embora. Eu engoli em seco, não entendi muito bem o porquê. E fui embora também. Mais pra frente, um artesão expôs seus trabalhos lá. Notei que tinha um amontoado de gente lá. Vários trabalhos e quadros de Kill Bill, Game of Thrones, essas coisas "Nossa, tudo dos meus filmes preferidos", diziam. Como assim? Tinha mais coisas lá. Trabalhos pintados em madeira. Trechos da Marisa Monte. Vinícius de Moraes. Belchior "A minha alucinação é suportar o dia-a-dia, E meu delírio é a experiência com coisas reais". Tinha muito coisa lá. "Mi casa, su casa". Trechos do pequeno príncipe. Tsc. Aquilo tudo me cortou demais. O pequeno príncipe e sua rosa. A rosa que morreu... Dei um volta. Fui até o final da feira, voltei e parei de novo no estande do cara. "Tudo isso tem significado demais", falei pra ele, perturbada. "Eu percebi, moça. Mas é isso que eu quero passar fazendo o que eu faço". Comprei uma ripa de madeira toda esquisita pintada em azul que dizia "O essencial é invisível aos olhos". Está pendurada na parede do meu quarto, toda torta e chorosa. Na volta, passei pela praça. Encontrei o cachorro de novo. Novamente deitado e com os olhos fechados, cansado. "Ele conseguiu subir até ali". Deve ter andado pelo menos uns 500 metros. E aí entendi o que senti. Eu andei pela feira como o cachorro. Sem ninguém me olhar, cabisbaixa. Uma menina no colo da mãe apontou pro cachorro, toda sorridente "Mãe, o cachorro está dormindo!". Não está, não, menina. Está morrendo, como eu. Tem vezes que a gente anda por aí, existe, conversa e até ri (ou abana o rabo?). Só que na verdade, estamos mortos, feito cachorro na praça. Morremos de novo e de novo, até uma hora reviver. Mas reviver, hoje, ainda parece algo um pouco distante. Deixemos assim por enquanto.
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